Priscila Biancovilli
Um
trabalho inovador coordenado pela pesquisadora Marcia Capella, do
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (UFRJ) sugere que a música
pode servir como grande aliada no tratamento do câncer de mama. O
estudo, que teve início em maio de 2010, analisa os efeitos de ondas
sonoras audíveis em células em cultura. Quando células MCF-7 (de câncer
de mama humano) são expostas à 5ª Sinfonia de Beethoven e à composição
Atmosphères, de Gyorgy Ligeti, tendem a diminuir de tamanho e morrer.
“Iniciamos nosso trabalho usando três composições: a Sonata para 2 Pianos em Ré maior,
de Mozart (conhecida por causar o “efeito Mozart”, um aumento
temporário do raciocínio espaço-temporal de um indivíduo), a 5ª Sinfonia
de Beethoven e Atmosphères, uma composição contemporânea, que se caracteriza principalmente pela ausência de uma linha melódica que traduza o tema”, afirma Márcia.
As células MCF-7 “ouviram”
as músicas durante meia hora, e depois, o grupo testou seus efeitos. A
composição de Mozart não provocou nenhuma alteração nas células, mas as
de Beethoven e Ligeti causaram a morte de em média 20% delas, além de
diminuição de tamanho e granulosidade. O fato de Mozart não ter
provocado nenhuma reação é curioso, já que suas composições estão entre
as mais utilizadas na musicoterapia. Já foi descrito na literatura que a
Sonata para 2 Pianos diminui o número de ataques epiléticos e aumenta a
capacidade de memória em pacientes com Alzheimer. Nesse caso, porém,
nada de especial aconteceu. “Pode ser que a música de Mozart gere
efeitos apenas em neurônios, mas não em outros tipos de célula”, sugere
Marcia.
O
ciclo de duplicação da célula MCF-7 dura aproximadamente 30 horas.
“Então fazemos a contagem de células sempre 48 horas depois da exposição
à música, porque sabemos que já houve uma duplicação. Buscamos agora
formas de aumentar a porcentagem de morte celular. Beethoven é
extremamente agradável de se ouvir, então não seria de forma alguma um
problema para os pacientes portadores da doença. As composições de
Ligeti, diferentemente, não são harmoniosas e causam uma maior tensão.
Mas como ambas parecem agir apenas sobre as células cancerosas, estamos
vibrando”, comemora a professora.
“Ainda
precisamos estudar melhor os mecanismos destes efeitos, ou seja: porque
apenas alguns tipos de células são sensíveis a estas músicas? E por que
apenas alguns tipos específicos de músicas provocam efeitos? Fizemos
testes também com a MDCK, uma célula não-tumorigênica, e com linfócitos,
e elas não responderam a estes estímulos sonoros”, continua.
A
ideia é que, no futuro, o grupo possa criar sequências sonoras
específicas para ajudar no tratamento do câncer. “Utilizando células em
cultura, acredito que possamos chegar a este ponto. Estamos eliminando o
fator emocional da música, analisando seus efeitos diretos em células.
Podemos agora começar a comparar uma célula tumoral com uma normal,
avaliando as diferenças entre seus mecanismos de resposta e vias de
sinalização”, diz Marcia. “Estamos partindo praticamente do zero.
Existem pouquíssimos estudos sobre esta área, e nenhum trata de células
humanas tumorais”, analisa Nathalia Lestard, uma das pesquisadoras deste
grupo. Mais para frente, eles pensam em expandir o leque de ritmos
musicais a serem utilizados, entre eles samba e funk.
Além
de Marcia Capella, compõem o grupo de pesquisadores deste projeto o
professor Marcos Teixeira, da Escola de Música Villa-Lobos, Raphael
Valente, aluno de pós-doutorado do Instituto de Bioquímica Médica da
UFRJ, além de Nathalia Lestard e Carolina Villela, alunas de iniciação
científica da UFRJ.
Disponível em: http://www.oncobiologia.bioqmed.ufrj.br/noticias_onconews_detalhes.asp?id=417